astarote

Astarote, também conhecida como Astarte, Ashtoreth ou Astorete, foi uma divindade feminina amplamente cultuada por diversos povos do Oriente Médio antigo, incluindo fenícios, cananeus, filisteus e outros. Seu culto esteve associado a diferentes aspectos, como fertilidade, amor, sexualidade, guerra e, em algumas regiões, ao planeta Vênus. Abaixo está uma análise detalhada sobre quem foi Astarote, suas características, contexto histórico, cultural e religioso, além de sua representação e influência, com base em fontes históricas, bíblicas e arqueológicas.
Origem e Identidade
Astarote é uma figura mitológica cuja origem remonta às religiões semíticas do Oriente Próximo, com raízes que podem ser traçadas até a Suméria (deusa Inanna), Acádia (Ishtar) e outras culturas mesopotâmicas. Seu nome, em fenício e hebraico, é ʿAštart ou Ashtoreth, e na forma helenizada, Astarte. O nome pode estar relacionado à palavra hebraica para "estrela" (devido à associação com Vênus) ou à ideia de fertilidade e poder divino.
Sincretismo Cultural: Astarote foi assimilada por várias culturas, ganhando diferentes nomes e atributos:
Fenícios/Cananeus: A principal deusa, associada à fertilidade, sexualidade, guerra e ao planeta Vênus. Era frequentemente considerada filha ou consorte de Baal, o deus supremo do panteão cananeu.
Gregos: Identificada com Afrodite, deusa do amor e da beleza.
Romanos: Associada a Vênus.
Egípcios: Relacionada a Ísis, Hathor ou Qetesh, sendo vista como protetora das mulheres e crianças.
Babilônios/Assírios: Equivalente a Ishtar, deusa do amor, guerra e justiça.
Relações Mitológicas: Na mitologia cananeia, Astarote era às vezes descrita como esposa ou irmã de Baal, filha de El (o deus supremo) ou associada a outras divindades como Camos (Quemós). Em textos ugaríticos, ela aparece como ʿAthtart, uma deusa guerreira e caçadora, mas não necessariamente ligada à fertilidade, como se pensava em estudos mais antigos.
Características e Simbolismo
Astarote era uma deusa multifacetada, com atributos que variavam conforme a cultura e o período. Seus principais aspectos incluem:
Fertilidade e Sexualidade:
Como deusa da fertilidade, Astarote era venerada por sua associação com a reprodução, a agricultura e o ciclo da vida. Seus cultos frequentemente envolviam rituais sexualizados, incluindo a chamada "prostituição sagrada" ou hierodulia, onde sacerdotes e sacerdotisas participavam de atos sexuais como forma de adoração. Esses rituais visavam garantir a fertilidade da terra e das pessoas.
Representações artísticas frequentemente a retratavam como uma figura feminina nua, com traços sexuais exagerados, simbolizando abundância e sensualidade.
Guerra:
Astarote também era uma deusa guerreira, especialmente entre os filisteus, onde era vista como patrona da vitória militar. Após a derrota do rei Saul, os filisteus colocaram sua armadura no templo de Astarote, indicando seu papel como deusa da guerra.
Em algumas representações, aparece montada em cavalos ou carruagens, simbolizando poder militar.
Associação Astral:
Astarote era frequentemente ligada ao planeta Vênus, conhecido como a "estrela da manhã" ou "estrela da noite". Seu nome e simbolismo (como a estrela dentro de um círculo) refletem essa conexão celestial.
Símbolos associados incluem a lua (representada por chifres ou vacas), estrelas, leões, cavalos, pombas e esfinges, que denotavam força, beleza e divindade.
Beleza e Amor:
Como deusa do amor, Astarote era celebrada por sua beleza e poder de atração. Seu culto enfatizava a sensualidade, e ela era vista como uma figura que inspirava paixão e desejo.
Culto e Rituais
O culto a Astarote era difundido em cidades como Sidom, Tiro, Biblos, Ugarit e Emar, e se espalhou para colônias fenícias no Mediterrâneo, como Chipre e a Península Ibérica. Seus rituais eram variados e incluíam:
Rituais Sexuais: A adoração a Astarote frequentemente envolvia práticas eróticas, realizadas em templos ou bosques sagrados. Essas práticas eram vistas como formas de conectar o humano ao divino, garantindo fertilidade e prosperidade.
Sacrifícios e Oferendas: Incluíam libações (ofertas de líquidos), sacrifícios de animais e, em casos extremos, sacrifícios humanos, como relatado em algumas escavações arqueológicas em Canaã (por exemplo, em Gezer, onde foram encontrados restos de crianças sacrificadas).
Postes Sagrados: Conhecidos como "postes-ídolos" ou "bosques", eram troncos esculpidos ou pilares erguidos em locais de culto, simbolizando a presença da deusa. Esses postes eram frequentemente condenados na Bíblia.
Celebrações Sazonais: O culto principal ocorria no equinócio da primavera, época associada à renovação e fertilidade.
Sacerdotes e Sacerdotisas: Seus seguidores incluíam clérigos que praticavam adivinhação e predição do futuro, atividades proibidas na tradição hebraica.
Astarote na Bíblia
Na tradição bíblica, Astarote é retratada de forma negativa, como uma deusa pagã cuja adoração era uma ameaça à fé monoteísta em Yahweh. Ela aparece em vários livros do Antigo Testamento, frequentemente associada à idolatria e à desobediência de Israel:
Condenação: A Bíblia condena o culto a Astarote, associando-o a práticas imorais e à apostasia. Por exemplo, Deus proíbe a construção de postes sagrados próximos a Seus altares (Deuteronômio 16:21-22).
Influência em Israel: Apesar das proibições, muitos israelitas adotaram o culto a Astarote, influenciados pelos povos vizinhos. Figuras como Salomão (1 Reis 11:5), Acabe (1 Reis 18:19) e Manassés (2 Reis 21:6-7) são citados como participantes ou promotores de sua adoração.
"Rainha dos Céus": Em Jeremias 7:18 e 44:17-19, mulheres judias são repreendidas por oferecerem bolos e incenso à "Rainha dos Céus", uma provável referência a Astarote.
Reavivamentos Espirituais: Líderes como Gideão (Juízes 6:25-30), Asa (1 Reis 15:13) e Josias (2 Reis 23:1-7) conduziram reformas para erradicar o culto a Astarote, destruindo seus altares e postes.
Distinção com Aserá: É importante não confundir Astarote com Aserá, outra deusa cananeia associada à fertilidade. Enquanto Astarote era cultuada em templos com imagens, Aserá era representada por postes de madeira (postes-ídolos).
Astarote em Outros Contextos
Demonologia Cristã:
Na demonologia medieval e renascentista, o nome "Astaroth" foi apropriado para designar um demônio masculino, descrito como um duque do inferno na Goetia e em grimórios como O Livro de Abramelin (c. 1458). Este Astaroth é retratado como um ser que seduz por meio da preguiça, vaidade e dúvida, ensinando ciências e matemática, mas não tem relação direta com a deusa Astarte, exceto pelo nome derivado.
Representações artísticas o mostram como um homem nu com asas de dragão, montado em um lobo ou dragão, segurando uma serpente.
Tradições Pagãs Modernas:
Em algumas tradições neopagãs, Astarote é vista como uma deusa gentil e amorosa, símbolo de empoderamento feminino, liberdade e conexão com a natureza. Seus chifres de cabra, por exemplo, são interpretados como símbolos de força e adaptabilidade, não de maldade.
Influência Cultural:
Astarote influenciou celebrações como a Páscoa pagã (em inglês, Easter, derivado de Eostre, uma deusa anglo-saxã possivelmente relacionada). Símbolos como ovos e lebres, associados à fertilidade, têm raízes em cultos antigos a deusas como Astarote.
Significado e Relevância
Astarote representa a complexidade das divindades femininas no mundo antigo, combinando aspectos de criação e destruição, amor e guerra, vida e morte. Sua figura reflete valores culturais de fertilidade e poder, mas também a tensão entre politeísmo e monoteísmo, especialmente na tradição judaico-cristã, que a demonizou.
Simbolismo de Dualidade: Astarote é vista como uma deusa que encarna dualidades: beleza e violência, sensualidade e força, luz (estrela) e escuridão (associações demoníacas posteriores).
Empoderamento Feminino: Em interpretações modernas, ela é um símbolo de independência e resistência contra normas patriarcais, especialmente por sua representação como uma figura forte e livre.
Impacto Histórico: Seu culto influenciou práticas religiosas e culturais em todo o Mediterrâneo, moldando mitologias e deixando legados em símbolos e rituais que persistem até hoje.
Crítica ao Estabelecimento Narrativo
Embora as fontes bíblicas retratem Astarote como uma influência corruptora, é importante considerar o contexto histórico. A condenação de seu culto reflete a agenda teológica dos autores hebreus, que buscavam consolidar o monoteísmo em Israel. Para os povos que a adoravam, Astarote era uma divindade central, associada à prosperidade e à sobrevivência. A demonização de sua figura, especialmente na demonologia cristã, pode ser vista como uma tentativa de suprimir práticas religiosas concorrentes e reforçar narrativas patriarcais que marginalizavam deusas femininas.
Além disso, a associação de Astarote com práticas como prostituição sagrada ou sacrifícios humanos deve ser analisada com cautela. Algumas evidências arqueológicas (como em Gezer) sugerem sacrifícios, mas a extensão dessas práticas é debatida, e relatos bíblicos podem exagerar para desacreditar cultos rivais. A visão de Astarote como uma deusa "imoral" reflete mais os valores dos autores bíblicos do que a realidade de seus adoradores.
Resumo
Astarote foi uma deusa fenícia, cananeia e de outros povos do Oriente Próximo, associada à fertilidade, amor, sexualidade, guerra e ao planeta Vênus. Seu culto, marcado por rituais sensuais, sacrifícios e postes sagrados, era difundido em cidades como Sidom e Tiro, mas foi condenado na Bíblia como idolatria. Representada como uma mulher nua, com símbolos como leões, pombas e estrelas, ela era uma figura de poder e dualidade. Sua influência se estendeu a outras culturas (como Afrodite e Vênus) e persiste em interpretações modernas como símbolo de empoderamento. Na demonologia, seu nome foi apropriado para um demônio masculino, mas isso é uma distorção de sua identidade original. Astarote permanece uma figura fascinante, refletindo as tensões entre politeísmo, monoteísmo e a representação do feminino no mundo antigo.
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